DESEJO
Quero em meu quarto, sobre a minha cama,
sobre este braço uma mulher morena
e no outro braço a fogo lento, em chama
uma alva e loira. O cheiro de açucena.
Porque minha alma, do cerrado atroz,
é tão sedenta quão sedente é a terra,
de tão carente já não tem mais voz,
só tem a força que o desejo encerra.
E quer da amada mais e mais da amante,
quer mais que anseio, ventre, corpos nus,
um pouco mais do amor que vaga... e errante
está nos bares, entre o fumo e a luz.
Por isso quer mulher morena e bela
por todo o sempre, no vaivém das horas,
doce e gostosa, quando dentro dela,
discreta e leve qual licor de amoras.
Mas quer também a loira, a quinta-essência
das horas solitárias, deslumbrante,
que me sufoca inteiro na indolência
e me transforma em frágil mendicante.
Morena e loira quero no meu leito,
desnudas nos lençóis do meu regaço,
acomodadas, junto, no meu peito,
nas virações do amor, no meu cansaço.
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