Brasília, 26/10/2004 - 18:16h
Pausa.
Por um momento, a sensação exata
de que a língua me castra as palavras.
A língua castra-me a língua.
A língua é o fracasso declarado da poesia.
A língua é a negação da palavra.
A palavra que intitula
é a mesma, que dentro de mim,
capitula ante o que quero dizer.
A língua castra-me e a mata a poesia
da mente, da alma, do espírito.
O amor não se faz com palavras.
Dizer amor não faz o amor.
Ele é, por si, indizível.
O amor que eu falo, não vive.
O silêncio fala melhor por ele.
A língua, órgão de recriação,
é a recreação do sentimento.
O amor que se vive, não se vê.
A emoção que acontece, não se vê.
O invisível conspira e
silenciosamente batalha com a língua.
Pauso.
Que faço com as palavras que não posso ver?
Que faço com a língua que castra a poesia?
Extraordinária esta guerra entre o invisível
e a língua que vai-me podando a fala...
Não importa. Só o que interessa
é este silêncio mortalmente eloqüente.
|