A palavra é um gato.
Soberana de sua vontade,
arromba o peito e salta,
vitoriosa, pela boca e pelos dedos.
Na falta daqueles, impõe seu desejo
e vara,mundo afora, pelos olhos.
Felina e temperamental, adormece
quando bem desejar,
por longos períodos ou pequenos cochilos.
Não importa: inútil bater-lhe à porta.
Como um gato, não tem dono,
apenas acompanha alguém que escolhe.
Não se rende, não se subordina,
não se encolhe.
Salta de um ponto a outro,
de uma idéia à seguinte
e aquele a quem segue,
segue a buscá-la,
como se fora um pedinte.
A palavra é um gato,
que ora se estica preguiçosa
por versos a fio,
hora se enrola e se esconde,
adormece em si mesma.
E como um gato,
determina a hora de sair.
A nós, cabe apenas aceitar
suas idas e seus retornos.
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