Como um viajante cansado,
descansas a mente no meu corpo.
Nele inscreves tua letra
com as marcas dos teus dedos
e com as tintas da tua saliva.
Como um clandestino
no meu país
ficas como um mistério indecifrável.
Guardas na minha boca o silêncio da tua boca.
Nos meus olhos permanece,
como um poema, o intraduzível que mora nos teus.
Quando, ao final da viagem,
meu corpo, desabitado de ti,
descansa ao teu lado,
teus olhos ainda habitam-me,
clandestinamente,
perenizando o momento fugaz
na forma da emoção permanente
que inscreves publicamente
em todos os caminhos
da minha terra que abriga
a rede do teu exílio voluntário
na curva exata que fica
na dobra dos lençóis...
|