Brasília, 11 de agosto de 2004 – 11:20h
Desde que me conheço por gente
corro atrás de borboletas
e vejo castelos em bolhas de sabão.
Desde que me conheço por gente
coleciono sonhos em gavetas,
alguns escritos em letras,
em versos escritos à mão.
Em algum ponto da estrada
me desconheci como gente,
não por falta das borboletas
ou das bolhas de sabão:
me desconheci como gente
por me esquecer como era
o que me fazia diferente
do resto da multidão.
As borboletas ainda voavam
insistentes em minha testa,
as bolhas, entretanto,
eram então densas, espessas,
e não me faziam mais festa.
Não mais me sabendo gente,
não mais sabendo quem era,
segui meio assim, descontente,
meio nada, meio fera.
Como sempre acontece
àqueles que vão se perdendo
em algum ponto da estrada,
coisas foram acontecendo
embora eu não visse nada.
Distraída de mim mesma,
fui levando a vida
(que na verdade me levava)
e assim mesmo distraída,
vi que uma borboleta pousava,
e ainda que eu não a visse
nem dela fizesse conta
ela foi fazendo casa,
foi morando, assim, por conta,
criando, à revelia,
novos sonhos, rebeldias
no vale deserto encontrado
no esquecido coração
e um belo dia, sem aviso,
voltaram as bolhas de sabão.
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