Há um monstro escondido no armário.
Silencioso, não faz ruídos,
não delata sua presença,
não chama a atenção dos sentidos,
vai no sentido contrário.
Alimenta-se da nossa ilusão que insiste,
com lógicas, pensamentos, argumentação
em afirmar que o tal monstro não existe.
Há monstros em todos os armários.
No armário de cada um vive um monstro,
muito embora sejam todos o mesmo.
E assim mesmo, afirmo e penso que demonstro
que não há monstros. Sou só eu mesmo.
Em nossa negação de sua existência,
trancafiamos a sete chaves e cadeados,
negamos com insistência
até mesmo que existe o armário.
Inútil. O monstro oculto, trancado,
cresce na mesma medida da negação.
Vive do medo que temos guardado.
Vive do excesso de cabeça e da ausência de coração.
O monstro está escondido em algum armário,
ou preso em alguma gaveta secreta.
E escapa. Pela janela dos olhos,
que, descuidados, deixamos aberta.
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