Canção Cartesiana I (ou o Elogio à Dúvida)
(À Hilan.)
Quem me garante que o mundo é governado por Deus,
E se ele for governado por um demônio maligno?
Se me enganam os sentidos meus,
Se meu cálculo é incorreto, incerto, indigno.
Preciso descobrir alguma coisa que se salve,
Tenho que buscar o meu porto seguro
Preciso encontrar algo que a dúvida acalme,
Procurar um fundamento que garanta o futuro.
Duvido dos meus sentidos indevidos,
dos objetos que me cercam amarelecidos.
Duvido de tudo e de todos, fico no escuro.
Só não duvido da minha própria dúvida.
A dúvida transformou-se na minha certeza.
A experiência da dúvida é a minha vida.
Duvido, logo existo, é minha clareza.
Procuro um fundamento para construir meu edifício
Onde a dúvida não venha habitar.
Ciência da ciência, crença ou artifício?
Vão para o diabo sem mim, vou me salvar.
Dúvida... dúvida meu veneno de matar.
Tereza da Praia
Série: Vadiação da Alma Indecente.
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