Buenos Aires, 26/052004 – 14:03h
As portas se fecharam diante de mim.
Não há tampouco, ainda que busque, a esmo,
janelas que se abram, quem sabe, a um jardim,
a uma praça, uma fonte, ou nem mesmo
um céu azul que se abra para mim.
As portas estão cerradas.
Não há janelas, ainda que fechadas.
Não encontro as chaves.
Não estão em meu poder.
As portas que um dia abrimos
são fechadas por nós mesmos,
naquelas abertas por outros,
uma vez fechadas, não adianta bater.
Faz frio lá fora e aqui dentro congela.
O frio que vem de dentro é pior:
paralisa, incapacita, esfacela
cada pedaço do que temos de melhor.
Olho a porta e busco, em vão,
onde está a tranca, a fechadura,
uma abertura, uma chance, um vão.
Nada. Não cabe a mim encontrar a saída.
A porta fechou-se do lado de fora,
não há para onde ir ou o que fazer.
Paralisada e impotente, agora,
só o que me resta é tentar aquecer
o frio que insiste e se demora
dentro do meu próprio ser.
Não há placas de saída,
e há portas que não se arromba.
Fecham-se. É tudo.
Dentro de nós a esperança tomba
diante do frio que deixa o coração mudo.
Não sei onde está aquela que conseguia
fazer com que as portas se abrissem.
Dela resta pouco, talvez uma fotografia,
um sorriso congelado no papel.
Revivê-la, levantá-la, aquecer-lhe a alegria,
restaurar-lhe a confiança, mostrar-lhe o céu,
com outros azuis, mais claros,
trazer-lhe de volta o sol
e ao rosto o sorriso raro.
Tarefa hercúlea esta,
de ressuscitar a morta,
nesta sala funesta,
trancada a porta,
pouco resta.
Não há placas de saída,
e há portas que não se arromba.
Fecham-se. É tudo.
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