A chama da vela, suave,
em meio à força de suas cores,
vagueia de um lado a outro, flutua,
diante das minhas dores...
Ouvindo-me as orações, segue a vela,
a chorar lágrimas de parafina,
que ao final, vão todas elas,
formando uma lagoa pequenina
no prato que coloquei para ela.
Sigo em minha oração
agora, com os olhos fixos nela,
como se tivesse, ela, como eu, um coração,
e minhas dores e lágrimas vertessem dela.
Aqui e ali, em meio ao fogo alaranjado,
um matiz de vermelho, outro azulado,
como a mostrar que tudo, e todos,
na verdade, têm muito mais que um lado.
A vela tem algo de muito seu, muito íntimo,
que não se vê à luz das lâmpadas:
à claridade das luzes tudo é tão ínfimo,
mas à luz da vela, a luz sobre tudo se agiganta.
Terminada a oração, a vela ainda queima.
Permaneço assim, num misto de paralisia e oração,
a ver aquele pedaço de cera, que pequeno, ainda teima,
em estar ali, queimando, a iluminar-me o coração.
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