CANTIGA DE ESPERAR.
O amor chegou de mansinho,
Pousou no meu ombro, qual passarinho.
Como um beija-flor de antiga cantiga.
Convidou-me pra com ele voar sem fadiga.
Não era um pássaro novo, que apareceu de repente.
Era um passaro antigo, já meu conhecido, velho carinho,
Que em outras jornadas havia pousado no meu caminho.
Juntos voamos, sonhamos, amamos contentes.
Mas um dia o pássaro cansou, voou, ficou distante.
Transformei-me em flor murcha e sem olores
Passou o tempo. Veio a primavera radiante.
Reflori. Perfumei o caminho de outros viajores.
Mas eles também se foram sorridentes.
Ou fui eu que voei pra longe deles, festeira.
Talvez pela lembrança daquela ave primeira,
Que no pensamento esteve sempre presente.
Agora ele voltou. Ficou um pouco, quase nada.
Uma noite apenas... apenas uma noite dada.
Rezei para que sol não aparecesse no horizonte.
Mal o dia clareou, o pássaro voou pra sua fonte.
Já não posso mais ter o antigo passaro comigo.
Não vou fazer como a raposa: "as uvas estão verdes."
Não! Estão maduras e deliciosas, um perigo.
Só que não me pertencem , minha dor mitigo.
Quando voamos juntos, foi uma noite mágica.
Tão real que pensei pudesse ser eterno.
Mas são diferentes nossos caminhos, coisa trágica.
Mas o sentimento é o de sempre. Não governo.
Como num racional jogo de xadrez,
Aguardo um movimento do pássaro-talvez.
E fico aqui esperando em total embriaguez
Esperando com ele voar outra vez.
Tereza da Praia
Série: vadiação da alma indecente.
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