Esperei-te, amor, por tantos anos,
todos eles vi passando,
um a um, muitos enganos,
aos poucos, se amontoando.
Não cessei de esperar, no entanto,
olhava e buscava, de um lado a outro,
por todo lado, por todo o canto.
Nem luxos, nem prata, nem ouro,
nenhuma amizade, receita mágica,
nenhum tesouro
sequer um livro antigo
em alguma língua morta,
pôde trazer-te até minha porta.
Segui a caminhada,
um tanto viva, meio morta,
crendo agora, que talvez nem existisses,
que fosses tu, na verdade, mais uma destas tolices
de que falam poetas, trovadores de porta em porta...
Ao descrer de ti, por fim,
foi que na esquina dos trinta,
sem que eu pudesse esperar,
num repente, numa finta,
tua face pude olhar.
E tinhas o rosto mais lindo,
trazias nele a luz
da confiança, da paz, da alegria
e da paixão que seduz.
Apaixonada me fiz,
sem remédio, de uma vez
nada além do meu nariz
me era agora dado ver.
Dificuldades? Quais?
Não. Nada disso. Nada mais.
Só o amor imenso
que ardia peito adentro
fazendo fogo tão intenso
queimando da borda ao centro.
Dei-me toda. Inteira.
Sem limites, sem fronteira.
Entreguei tudo que tinha
sem nem pensar no que vinha,
e se viesse, o que é que tinha?
Tu trazes contigo a entrega,
a coragem dos loucos,
a paixão que cega
e a confiança de poucos.
Mas a vida, meu amigo,
parece tua inimiga,
corre e fabrica intriga,
fofoca, tédio, barriga,
contas a pagar, choro de bruços,
dores entre soluços
e a mágoa profunda que cansa
e mina toda esperança
que teimamos em cultivar.
Ah! amor, e tu bem sabes
que onde a mágoa entra, tu sais
e ficam no peito as saudades.
Lembranças daquele que um dia
te trouxe, e junto a alegria
que no coração foi plantar.
Outras curvas vieram,
depois dos trinta e muitos
teimosas dores quiseram
permanecer em meu mundo.
Passei a viver das dores
assim me sabia viva
embora me visse cativa
e escrava dos dissabores.
Te fostes de mim sem aviso
deixaste-me um rosto sombrio
e nele um triste sorriso
de quem tem o peito vazio.
Mas tenho um grave problema
Sou teimosa de nascença
faço da vida um poema
e não creio na descrença.
Essa história vai seguir
por outros capítulos entra
agora, na curva dos quarenta,
vejamos o que vai vir.
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