Vento de longe, amigo vento, vais me levar de perto
aonde as aves se aquietam, as moças se embelezam e
não se desencantam com a morte das crisálidas presas
e fincadas na terra e nas árvores, sem tempo algum,
sem saber das coisas do medo, coisas da inocência, a
secular inocência dos túmulos onde queimam velas
a esperar sair do estado de ninfa aquela que me ama.
Marco de primavera, das coisas que passam e não
ostentam a sabedoria da gente, e nunca voltam, e só
relembrar faz o que já foi, o dia de ontem, céu de asas, e mais,
a nitente seda de uns fios que separam vôo e pouso, e além
esperar tem de um saber quando o tempo de exato é
sair de um sono fiandeiro, sono de beleza, tempo de amar.
Tecido, então, o tempo bate nas nuvens, e as nuvens
usurpam asas umas as outras, que leves são seus vôos,
nisto fazem bem, mas mais leve a asa da borboleta
usurpada dum ramo de nuvem, que vai como vão os dias
de contar semanas, de contar histórias e levar as vidas:
“a que dia pertence uma nuvem? – quem a vê discernirá.”
Coisa inquieta é esta a do vento: um dia passa aqui,
outro, segue a trilha, lugar longe deste e vê a manhã, e vê a noite
servindo essência ao material que traz a vida e a morte, e
traz o vento amigo, o que me leva, que a natureza viva morre
a natureza morta renasce, de asas ao tempo seu e não dos homens.
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