Prezada Senhora.;
Considerando que a vida é curta,
considerando que o tempo é breve,
considerando que há muitas culpas
e que o fardo não é leve.;
considerando que o imprevisível
é a única possibilidade previsível,
que o que vemos não é necessariamente visível,
que o tempo pra rir, brincar, deitar e rolar
é tão pouco que é risível.;
considerando que as dores são incontáveis,
e os prazeres nem sempre são memoráveis.;
que o que se conta é o que conta,
e o que vale mesmo nem se dá conta.;
considerando que haverá sol,
mesmo depois das tempestades.;
que não faço tudo que quero,
e que o que faço nem sempre é a minha vontade.;
considerando este coração desconsiderado,
por mim mesma um tanto quanto esculhambado.;
considerando que nem sempre me consideram,
como eu mesma já tantas vezes o fiz.;
considerando que não sou mestre,
que estou muito mais pra aprendiz.;
considerando tanto cansaço,
tanto desleixo, tanta falta de regaço.;
considerando todos os considerandos,
dirijo-me a Vossa Excelência,
faço promessa, penitência
pago pedágio, peço licença,
à Senhora aí de fora
que me permita viver.
Nestes termos, pede deferimento
eu mesma, aqui de dentro.
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