Há tempos em que ando pelos dias
vestida de sol, tenho a alma que brilha,
insistente, teimosa, embaixo de nuvens frias.
Tempos há também em que atravesso
os mesmos dias como uma noite sem lua,
céu escuro, ar pesado, réu confesso...
Tento em vão buscar os dias em que o sol me veste,
busco a esmo o caminho certo. Peço.
Que a noite escura que insiste, como peste,
a cobrir-me com sua chaga escura,
deixe meu corpo e alma e permita-me a procura
do sol que virá com sua luz de cura
vestir-me a alma, dourar-me os dias,
tirar-me de vez de tamanha letargia,
encontrar o caminho de volta ao encontro
daquela criança travessa, que ainda sorria...
Risos largos, sem sombra, pura luz.
Gargalhadas gostosas, alma que ri,
olhar iluminado que olha, atravessa, seduz.
Quero achar em que gavetas estão guardadas
minhas vestes de sol, minhas risadas,
meu olhar dourado, minha vista ensolarada...
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