Armei uma briga com o espelho.
É uma guerra tamanha,
difícil saber ao certo
se há quem perde ou quem ganha.
Minha guerra com ele é uma só:
não o olho mais e pronto!
Sem mais razões e sem dó.
Não olho porque me irrita,
quando o olho e ele me fita,
a mania que aprendeu,
de me dizer que aquela
lá dentro dele sou eu.
Teimosa então eu me faço,
com todo o desembaraço,
discuto, faço um bagaço,
dilacero, grito ameaço:
Cala-te ou viras pedaços!
Não sou quem queres que eu seja,
bruxa má ou fada benfazeja.
Não sou nada do que desejas,
mas se insistires,
serei eu a mão que te apedreja!
Não estou dentro de ti
e quem eu sou não alcanças,
não levas contigo minha alma,
minhas dores, esperanças,
tampouco tens o poder
de devolver-me as tranças
da minha remota criança...
Não te olho nunca mais,
não te quero ver pela frente.
O que mostras é, tão somente,
um arremedo, um cartaz...
Tenho-te por inimigo
já que vives a dar abrigo
àquela que não vive mais.
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