Ela é um fantasma que anda.
Circula por todos os lugares
carregando o peso do lençol,
colecionando restos de amares,
de não respondidas demandas.
Ela carrega consigo o peso de toneladas.
Toneladas de coisas que podiam ter sido feitas,
de palavras que deviam ter sido faladas,
dos muitos “nãos” engolidos,
das muitas concordâncias contrariadas,
dos silêncios em horas erradas,
dos gritos que não diziam nada.
Carrega um lençol de retalhos.
Retalhos de sonhos desfeitos,
de amores poucos, rarefeitos,
retalhos da alma em frangalhos.
Ela é um fantasma antigo, antiquado.
Um não-sei-quê impróprio, inadequado.
Fantasmas ocupam espaço.
Muito mais espaço do que percebemos.
Tanto que nos tornamos, sem saber,
a sombra, o fantasma do que pensamos ser.
Ela é um fantasma.
Que anda, apronta, desanda.
Mas já está antiquado, modelo ultrapassado.
Hora de limpar as gavetas, botar flores na varanda.
Hora de rasgar o lençol, botar fogo na casa.
Hora do fim. Fim do fantasma que anda.
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