Há dentro de mim uma velha,
uma mulher muito antiga,
um ser de muitas eras,
silenciosa amiga....
Raras vezes me fala,
seu sorriso é incomum,
mas mesmo quando se cala
mesmo quando não sorri,
entendo bem sua fala,
percebo o seu sentir.
Das coisas que não entendo,
das coisas que nem suspeito,
daquilo que me surpreendo,
daquilo que vai no peito...
é disto que fala a velha,
com sua pouca palavra,
com sua presença silente
com sua luz ela lavra
um caminho , uma estrada,
um entendimento, um presente...
Nas muitas tentativas
de saber o que fazer
ante muitas rogativas
sua resposta fez-me ver:
Amiga, por que desejas
ter sempre o que fazer,
por que pensas que podes
estar sempre a resolver?
Muita coisa não se faz,
não se resolve, não se refaz...
Buscar algo a fazer
não é um caminho de paz.
Há vezes em que o mais certo
é aceitar o incerto
sem querer determinar
o que é errado ou correto.
Enquanto te preocupas
o que fazer com a vida
ela já está sendo
hoje já é despedida.
Enquanto estás ocupada
com o que está por vir
a vida, esta danada,
já está decidindo por ti...
Enquanto pensas que sofre
com tuas dores e tristezas
estás deixando de ter
da vida, a cor e a beleza.
Enquanto vês a ti mesma
tão séria, tão circunspecta,
tão cheia de preocupações,
que – seja honesta contigo –
nem mesmo tuas elas são,
a vida segue em frente, reta,
despreocupada de ti,
enquanto te descabelas,
a vida passa a sorrir...
Que mais queres que te diga,
companheira pensativa?
Queres uma fórmula, a receita?
Esquece. Não és perfeita...
Também a vida não é.
Deixe a vida acontecer,
toma as rédeas e segue.
Em pé.
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