Deitado sobre um lençol de sangue,
Olhos perdidos na última lembrança,
Corpo contorcido pelo choque,
Indisponibilidade para a vida.
Eu passo, apressado, olho, apressado,
No fundo temo, ficar perto da morte.
Eu penso, apressado, esqueço, depressa
Que a vida pode me abandonar na esquina.
Mas eu não quero pensar.
Ligo o rádio e ouço rock.
Quanto mais alto melhor.
O barulho afasta a morte
Que tanto ama o silêncio.
Procuro fixar a visão no verde
Da mata que passa veloz,
Para esquecer o vermelho
Que manchava todo o asfalto.
Quem era, quem amava, quem esperava
Aquele homem morto na estrada,
Eu nunca saberei, nunca escutarei
Nenhum pranto por ele.
Tento entoar uma oração,
Sinto apenas uma grande confusão,
Misturada à comoção
De ver um homem morto na estrada.
Sigo o conselho do rádio,
E vou cantando deixa estar,
Deixa estar...
www.poetadopovo.kit.net/
Marco Antonio Cardoso |