Não posso querer sonhar
mil sonhos de uma vez,
se o sonhar turva-me os olhos
na espera de um talvez.
Nem posso querer sonhar
um sonho de cada vez,
porque ainda será sonho,
voz incerta de um talvez.
Manhãs, tardes, noites
atravessadas de sonhar,
em que sonho e talvez
perdem-se no mesmo vagar.
Não posso querer sonhar,
sequer mil vezes o mesmo
sonho. De antes ou de agora,
o sonho sonhado a esmo,
que em mim se demora.
Sonho de tempos antigos.;
sonhos que a todos abdico.;
sonhos de meu ser insone:
grito que não me é abrigo,
voz suspensa ao telefone.
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