Estamos chorando sem Deus
Olho para o lado.; estou só
No meio dessa multidão
Que solidão!
Que medo de ser pisoteado
Ser esquecido
Os rostos me apavoram
Caras fechadas, sofridas, cicatrizes
Com medo, com dor
Será que eu também estou assim?
Parecem (parecemos) andróides rotineiros
Fazendo todo o dia as mesmas coisas
Beijos com horários marcados
Carregados de stress
As farmácias sempre lotadas
Vendendo promessas vitaminadas
Substâncias para a alegria
Por um instante sequer
As imobiliárias intermediam diariamente
A venda de jaulas em concreto
Par ao bicho-homem ficar preso
Diante da televisão
Ficamos gordos, feios, sem graça
Não rimos, recorremos às academias
A internet, ao DVD, à agência de casamentos
Não temos mais coragem para sair
E surge a grande explosão
O grande tédio
A grande vontade de não ser só
De não ter medo, de não virar bicho
Competimos, competimos, competimos
Até perdermos a noção de igualdade
Alguns falsos sorrisos nos restam
Muito pouco, para seres inteligentes
Não sei como chegamos a isso
Progresso?
Não, não progredimos
Estamos chorando sem Deus
( Codo. Recife, Pernambuco, dezembro de 2002)
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