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Poesias-->Os corpos suportam Deus -- 28/12/2002 - 14:12 (joão manuel vilela rasteiro) |
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Um homem com uma pele autêntica
e muitas romãs suspensas nas lágrimas.
São elas enquanto o tempo morde
que caiem mutiladas na casa inabitável
e saciam o corpo da terra na sua rigidez
e o corpo é o limite dos sentidos consentidos
nos brancos pendões ao vento esquartejando
a noite que contempla extasiada e em júbilo
um mapa sobrevoado pelas aves do anúncio
em que ninguém vigia a distãncia esquecida.
O trajecto é lavrado por chamas na boca
e os homens conhecem então o silêncio das coisas.
Chega um tempo em que não se mastiga mais
e o linho se estende pela vertente do vale
no prazer de ser apenas o pó das grandes constelações
porque são esquecidas porque são a distância.
Toda a pele está soldada à potência do seu corpo
o lume que na língua se demora e desenvolve,
chega um tempo em que não adianta morrer
o corpo apenas sem mistificação rodeando a voz.
Olhando a loucura com sua forma indecifrável
carícia e dor irresistíveis achando bárbaro o espectáculo,
o corpo aberto com o centro estancado na palavra
o espelho e a imagem cosendo a ânfora de Deus.
Chega o tempo em que o corpo é a monótona existência
suportando a agonia de um Deus que não diz e permanece.
in,Inédito,2003 |
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