Na lousa das tumbas, os círios tristonhos
Derramam em preces saudades infindas,
E, em gotas de cera, desenham-se lindas
Figuras somente miradas em sonhos.
Dois anjos marmóreos assistem à cena,
Enquanto nos galhos dum velho cipreste,
Piando, a coruja, na noite serena,
Parece inspirar-se no luto celeste.
O cheiro das flores recende em bafejos,
Deixando plangentes os vivos em prece,
E nelas o orvalho dos céus, em arpejos
Da música eterna, loução, adormece.
Ná lápide em sombras, dizeres sentidos:
Lembranças escritas em mármore frio,
De tantos amores na Terra perdidos,
De seres amados, de quem já partiu.
Nos céus, as estrelas, longínquas e puras,
Que tudo iluminam com raios de amor,
Parecem cantar, entoando as tristuras
Das almas irmãs, a trazer-lhes calor.
Talvez os que fiquem na Terra chorosos
Tivessem consolo à saudade tão triste,
Se um dia soubessem, ainda saudosos,
Que a morte não mata e em verdade inexiste!
Feira, 02 de novembro de 1999. |