"Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, o que punge, tudo o que devora
o coração, no rosto se estampasse.;
(…) Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo
Como invisível chaga cancerosa"
Mal Secreto – Raimundo Correia
"Si a ciascun l’intimo assano
Si legesse in fronte scrito,
Quanti mai che invidia fanno
Ci farebbero pietà!
Si vedria che i lor nemici
Hanno in seno, e se riduce
Ne parere a noi felici
Ogni lor felicità!"
Metastásio
Trago em meu peito a chaga misteriosa,
Marca cancerosa
Que corrói meu coração e rouba meu sonho,
Sugando cada cromossomo meu
E átomos de vida
Que corre, tísicos, em minhas veias.
Residindo em meu peito o mal obscuro,
Cada dia e segundo que vivo
É uma conquista e uma derrota
Que levo para o túmulo.
Vitória por resistir ao sono negro e sedutor,
Traz o germe da derrota futura,
De não poder
Fugir ao fado incerto, destino duro.
Contudo a chaga que me envenena o sangue
De que a Morte
É o universal e último remédio,
Não ataca o corpo, mas a minh’alma,
Como a lava incandescente,
Que tudo encobre, sem escapatória.
E na lousa fria do meu corpo poeta
Estará solenemente
Velando minhas cinzas O mal meu:
O de viver como um esteta…
|