Suspira ainda o Cristo no madeiro.
Seu corpo vergastado ainda sua!
O sangue cai na terra e exala um cheiro
De carne humana eternamente crua.
As aves de rapina vêm primeiro
Rasgar-lhe ferozmente a pele nua.
Um bicho vem rompante e sorrateiro
Lamber-lhe os pés e o Mártir continua
Ali na cruz, sofrente, um morto-vivo,
O cenho a porejar, amargo o rosto,
À espera de sorver um lenitivo...
Seu corpo verga e morre do desgosto
De ser há vinte séculos cativo,
Eternamente à humanidade exposto.
Feira, 26 de setembro de 1999
|