O silêncio:
Substância das origens,
Primeiro mundo do pensamento em si,
Essência das coisas indizíveis incompletas.
O silêncio:
O ecoar do nada original,
Vazio dos sons ainda informes,
O existir sem vida ou manifestação.
O silêncio:
A origem imprescindível de tudo,
O criar-se e o extinguir-se, ao nascer e ao morrer,
O instante sem fim da lembrança apagada.
O silêncio:
O sentido primeiro da palavra,
Causa da voz embargada pelo emocionar-se,
Conseqüência imprevista do arrepender-se.
O silêncio:
O ponto da gênese ancestral,
Calada voz do perpétuo mutismo divino,
Resposta à pergunta presa na língua.
O silêncio:
O calar-se e o resignar-se,
O sentir-se pleno e o tornar-se um só,
O integrar-se à natureza primordial.
O silêncio:
O inexistir do exprimir-se,
Ausência do ouvir-se a si e aos outros,
O não surgir do homem na Terra.
O silêncio:
O não viver por falta de vivente,
O moscar-se no vácuo da linguagem,
O angustiar-se por sofrimento atroz.
Feira, 12 de outubro de 1999
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