Luz Sombria
Horrenda dança de quimeras, no qual
A iniqüidade se faz eterna princesa
E rainha soberba, a altiva Tristeza.
Terrível coorte de dor, sem par ou igual.
Doudas falanges, num bailado espiral
Tingiam a Terra com suas vãs certezas.
Mesclavam o ar com falsas belezas,
Enganava a todos com seu beijo fatal.
Oh! Malditas teias das cruéis Parcas!
Estupor das antigas crenças mortas!
É o grão terror que devasta a terra!
Trazida por Pandora na funesta arca,
Eis que o Leviatã atroz, que tudo corta,
Irmanado, junta-se a Morte e a Guerra!
Luz Mágica
Chegando a vida em seu limiar,
No qual fenecem as luzes d’archote,
E a sinistra sombra, negra e forte,
Começa o trabalho, a gargalhar.
No meio do caminho, entre galgar
A escada do paraíso – ou outra sorte
Fatal lançada pelo triste corte
De Átropos, ao inferno for parar.;
O importante é ter a certeza
De que a vida inteira muito bem gozou
Como a maior das grandes belezas.
Assim, tal quem a senda, um dia trilhou,
dirá: “Importa vivir la vida de tal suerte
Que quede vida mismo en la muerte.”
Luz Viva
Desta fonte seca e amarga, gélida.;
Deste mar profundo, sonolento.;
Desta planície famélica, cálida.;
Deste céu roto, morto, macilento.;
Uma luz surge forte e delicada
Para, neste horizonte vão e lento
Descarregar, cadente e rápida,
A Força no espaço modorrento
Não haverá milícia de coronéis,
Muito menos, Armadas de potências.
Em um momento, prisões e quartéis,
Tudo que cala-se a voz da nossa verdade
Cessará ante o clarão único da essência
De meu povo e sua paixão pela Liberdade.
Luz Musical
No céu, conspirando o Maestro e o Poetinha,
Junto com os mestres Mozart, Verdi e Beethoven,
Dariam suas bênçãos à partitura e a cervezinha
Para nós, desafinados que com amam e bem ouvem.
E nessa mistura profana, clássico é Pixinguinha
E seus chorinhos ouvidos num oboé, num trem
De boa Música Popular, rica em velhas modinhas,
(Que uma batuta, o pandeiro e o cavaco, regem).
E nesta panacéia musical, o cantar
Da cavatina é samba de roda e salão
E um sanfona acaba no centro por bailar.
E o violoncelo, da cachaça se faz irmão
Para xaxados e árias e duetos tocar.
E sem estremecer, acompanhar o violão.
Luz Trágica
No mar sereno e negro, do alto do farol,
A loira donzela, solitária se põe a sonhar.
Sonha com a luz plena do Arrebol,
Sonha com um marujo valente, casar
E do alto dos penhasco, de sol a sol,
Entoa seu triste e monótono cantar.
Pede às ondas um colar do coral do Atol,
Pede os beijos às vagas alegres do mar.;
E os dias passavam e passavam
E sem respostas ficava nossa donzela.
Que as rugas ‘inda mais sua face cortavam .
E solitária, cansou de tanto esperar.
E numa no meio da terrível procela,
Resolveu, assim, sua vida vazia
Luz Noturna
O Sol deita–se no horizonte – Lânguido.;
As estrelas vão despontando – Lúbricas.
E cautelosa, aparece a Lua – Mágica.;
Como os pirilampos dançando – Patéticos
Mas, nas campinas, os duendes cantam – Trágicos.;
As corujas voam de suas tocas – Náufragas.
Os fantasmas, percorrem as ruas – Lógicos.;
Como os soldados rubros – Soviéticos.
E as Bruxas, em seu esplendor – Único.;
Realizam seus conclaves – Orgiásticos,
Nesta lua nova no céu vermelho – Sôfrego.
E como se vida não passasse de um Sábado,
O Tempo corre para completar o seu Tráfego
E noite se finda, calma, ébria, serena – Báquica.
Luz Errante
Nos penedos distantes, do fim do mundo,
Nas rocas perdidas no reino de Neptuno.
Nos clarões do céu nublado e distante,
Nas ardentias pelas ondas errantes
Um sentimento esquecido, da canção ancestral,
Ouve-se nas vagas preguiçosas um palor austral
Que voga ao sabor da suave, suave viração,
Que voga na célere e morna imensidão.
E nas nuvens, em sua maldita caravela,
Suspensa no firmamento, nau vai partir
Triste, está a Desgraças com pandas velas.
É o fantasma da Holandês Voador, a cumprir
A sina da maldição. Em vão vencer a besta fera
Das Tormentas sem poder parar, sem poder desistir
Luz Tétrica
Os últimos fios partiram. Minh’alma é livre.
E agora, solta no espaço, caminho ao Nirvana.
E calmo meu espírito flutua em direção da luz
Divina que alimentaram minhas vãs esperança
Mas não vou ao Paraíso – tola Quimera –
Nem sigo rumo ao Inferno – Medo infantil –
Mas ao lado sinistro e sedutor, Ópio
Letárgico a quem minhas cinzas destinam.
Não fui santo para receber asas e altar,
Nem fui pior que os outros para arder
No imaginário fogo de minha culpa.
Fui simplesmente um Ser Humano:
Com suas Grandezas e Mesquinharias,
Na hora última, rumo firme ao grande NADA.
Luz Obscena
Agora, nas horas mortas, sob o lunar clarão,
À orgias meus amigos de copo e devassidão
Chama-me, a mais um festim no lupanar,
Para mais uma vez, nossa mocidade profanar.
Mas desta vez, hetaira, variaremos a sessão:
De nada serve-me às práticas de felação
Ou suas divinas práticas do pompoar,
Ou seu enebriante e voluptuoso beijar.
Ao jovem sem criatividade e imaginação,
Deixemos este pueril e tolo brincar
Quando a mulher é uma mina de emoção
E prazer ilimitado: só vê-la com assim descalçar
Seus pés mimosos, sinto explodir meu coração
E um raro e intenso orgasmo, em mim, chegar.
|