A morbidez nem sempre velada dos meus versos não há de impedir-me de encontrar belezas ao pensar em ti
ao tentar encontrar palavras que digam o que quero dizer ainda que sejam sempre as mesmas num eterno ir e vir retórico.
A tarde avança na direção do precipício negro da noite atropelada pelas graciosas notas de Mussorgsky - aquele velho amigo de olhar canino que encontrei numa dessas noites de bebedeira olhando os quadros de uma exposição
a tarde avança, o tempo
a distância entre nós é tão grande e tu nem sabes da minha existência aqui neste insólito sul
é provável que jamais repouse meus lábios na tua testa nem fique diante de ti a te olhar
e é provável, ainda, que Ele não permita que ouça tua voz de trovão, inesperadamente doce derramando-se como uma cascata em meus ouvidos.
Ah Ele sabe ser sutilmente cruel.
Agora uma formiga sobe lentamente o papel - seria uma prima daquela que percorreu tua manga de veludo cotelê em Père Lachaise?
Não, nem isso... É a formiga que percorre o papel onde escrevo estas tolices
onde digo que tua barba está tão branca quanto tua alma deve estar.