SAUDADE DE VOCÊ
Procure-me na brisa da manhã,
No orvalho fresco da madrugada,
No pingo da chuva que escorre lento,
Pela vidraça transparente da sua janela.
Procure-me na multidão disforme,
Que se mistura às formas
Neuróticas e enlouquecidas da cidade,
No anonimato de um rosto comum.
Procure-me na água que tepidamente
Afaga seu corpo aveludado (creio)
E que, como uma cascata,
Despenca velozmente em busca do rio.
Procure-me no louco desalinho de seus cabelos,
No tom sensual de seu batom
No insinuante decote de sua blusa
Ou no contorno meigo de seus lábios.
Procure-me no espelho envelhecido pelo tempo
Nos seus olhos, castanhos lindos,
Nas rugas precoces do seu cismar
Ou na alegria contagiante de seu sorriso.
Procure-me no seu interior,
Na intimidade de seu pensamento
Nos seus sonhos, nas suas ilusões,
Nos seus desenganos e nas suas angústias.
Procure-me nas palavras que não digo
Na música que não canto
Na poesia muda e sem rima
Que escrevo para ninguém.
Procure-me, ainda que a procura
Possa parecer-lhe fútil e vã.
Procure-me, porque sou a saudade
Sou a louca saudade de você.
|