Existe algo depois da estrada.
Se for belo, deixarei de chorar
se for cruel, deixarei me matar
se for mulher, deixarei me domar.
Existe uma ponta de amor nesta tarde.
Se for sincero, deixarei me amar
se for fatal, deixarei de lutar
se for perdido, deixarei de tentar.
Existe um mar, um navegar, um se entregar
uma nave presa que quer se soltar
um desespero, um jeito de antigo
pessoas que não vejo nem ligo.
Há um choro de criança no meio da noite.
Seu choro me chega como golpe de açoite,
suas súplicas invadem a escuridão da morte.
Ele sofrerá, pois o destino não lhe dará sorte
ele morrerá e seu pequeno corpo
será velado por doces ninfas de luz.
Elas o banharão, o trocarão e o enviarão
ao caminho tortuoso que a tudo conduz.
Existe algo depois da estrada.
Se for piedoso, deixarei de implorar
se for calado, deixarei de gritar
se for triste, deixarei de brincar.
Existe uma doce canção depois da chuva.
Se for arco-íris, deixarei me levar
se for dor, deixarei me açoitar
se for justiça, deixarei me julgar.
Existe ainda uma lua cansada
um brilho sobre a vida sedenta
é uma unção, uma doce charada
que sobre todos se assenta.
Há um mundo maravilhoso depois do nada
e muitas estradas recèm-pintadas,
arbustos cor de prata, flor de malta
uma febre louca, sede de sua boca
muita tentação, uma mulher coração
de sorriso amor e corpo sedutor.
Existe uma cama e uma chama
e um só mente, para todo o sempre.
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