Tristeza que há no meu olhar.
Verdade que molha o deslizar
da saudade que me avizinha.
Sabe, agora que tudo passou,
o que sobrou é coisa comezinha.
Tanto que nem dói mais. Congelou.
Mas deixe-me contar como foi.
Como sangrou no começo
e me virou pelo avesso.
Vida, vida, morte, pavor,
todo o resto do nosso amor
se misturava em brasa.
Naveguei noites assombradas,
vendo vultos dentro de casa
e o dia me ferindo os olhos.
Tempo era escolhos.
No meio da rua, desespero.
E dentro de mim, espelhos.
Não podia mais olhar pessoas.
Ou pensar em suas vidas boas.
Acreditar era insanidade.
No desespero e saudade,
no mais que tanto me doía,
futuro já não havia.
Eu era loucura dos opostos.
Sim e não brigavam a postos.
Nunca, sempre, jamais.
Vida que se dilui e se desfaz.
Morte que pede muito mais.
Ser tomado pelo odor da treva.
Dia que me leva já não é o mesmo.
Céu azul hoje é vesgo.
Arroubos são passos estranhos.
Dor não tem vários tamanhos,
mas somente medida do meu espaço.
Apenas o diâmetro de um abraço.
Sabe, a raiva de que fui tomada
fez-me descer a escada
que levava ao porão das desilusões,
onde aprendi lições.
Amar não é sinônimo de felicidade.
Todo coração guarda saudade.
Para cada ofensa, há mais de mil perdões...
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