EU SOLIDÃO
É noite,
eu estou tão sozinho.
Me chamo solidão,
só o frio corta o deserto
da minha rua perdida.
Sem o número na porta,
minha casa é alvorada que o sol ignora.
Estamos á sós, eu e a solidão.
Na minha janela, uma lua de retalhos,
escondida nos filetes de vazios:
nesga minguante na calada das horas...
Vivo sem os olhos da lua,
sem o piscar das estrelas no gelo da aurora!
Lá fora, há toda uma noite de libido,
nas esquinas, nos bares, nos quartos...
Agitos, beijos, buxixos e desejos,
interpondo-se sobre as intimidades,
enquanto caminho silenciosamente
á procura de um beijo covarde!
Estanca-se a noite, a solidão é minha.
Nos meus olhos, um cinza de bronze,
na rua, apenas uma sombra vazia...
Com as pálpebras semi-cerradas em mármores
e esfinges de luas no vazio do céu, pinto
com tintas dos charcos um quadro abstrato,
na tela: um olhar desfocado de chuva,
emoldurando, impávido, o meu 3x4.
Me nego, sem a lua na calçada,
quando o tempo escapa solitário,
abafa-se a noite: o meu 3x4
pendurado em mais um dia de sudário...
Nhca
jan/01
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