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Poesias-->DE SENECTUTE -- 03/09/2006 - 21:13 (Délcio Vieira Salomon) |
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DE SENECTUTE
Délcio Vieira Salomon
Cícero,
meu sábio
e meu filósofo
tão subestimado
entre os defensores
da modernidade,
te leio com ternura
e comovido estou.
Cheguei à velhice
como quem chega ao porto
pronto para partir.
Não sei se feliz ou infelizmente.
Apesar de decidido,
sinto-me desarmado
e sem bagagem,
sem treino, nem preparação
para fazer a grande viagem.
Apenas com a consciência
e o espírito em paz.
Por isso me pergunto:
- que diferença faz?
Cheguei
e procurei
na penumbra
do tempo
alguém para me orientar
ou talvez para dele me despedir...
Só sombras achei.
A incumbência da partida
era uma só:
- ao me encontrar do lado de lá
confirmar
se a busca da Verdade cessa
naquele limiar.
Senti-me pela última vez
como o títere do destino.
E compreendi como nunca
que dentro do Universo todos nós
somos, num anacoluto existencial,
sem predicado e sem complemento,
os sujeitos do Acaso
.
Esta a sabedoria que ressoa
em toda a plenitude
nessa imensidão
diante da finitude do Ser
que se esgota
no angustiante fluir do Nada.
Adeus mundo de ilusões.
Vou partir como degredado
para paragens estranhas
sem saber se vivi
apenas para lá chegar.
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