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Poesias-->JOÃO PALAFITA -- 18/12/2000 - 00:36 (Nelson Haroldo C Anjos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
JOÃO PALAFITA



Acordou, escovou

os dentes com carvão,

olhou a mesa, pratos vazios...

Ruminou com os olhos a fome.

Abriu a janela, viu

um sol nascente mirrado,

mas que enche bocas vazias,

dependurado nos caibros...

Rogou aos céus!

Passou pó de pemba no peito,

colocou o patuá no pescoço,

fechou o corpo!

Apanhou o gereré,

chamou por Ogum de Ronda

e desceu para a maré.

Foi mariscar...

Papa-fumo,

canivete e rala-coco.

Siris magros,

caranguejos e aratus.

Não acreditou no que viu!

Passou as mãos nos olhos,

viu a fonte do seu alimento,

sem ao menos lhe darem

outro meio de sustento

aterrada pelo lixo

da noite para o dia!

Chorou nas mãos

toda sua agonia...

Enquanto,

ratos, baratas e urubus

faziam a festa, sorriam!

Ainda restava

um pinico de maré,

não pensou duas vezes:

do gereré rasgado, deu-lhe algum nó,

pescando magros baiacus,

tinha ali o seu por do sol!

Subiu as pontes,

passou no cacete-armado

de Tonha de Zene,

deu uma para o Santo

e tomou três poca-olho.

Saiu mambembe,

revirando os olhos, zarolho!

Chegou no barraco, sem tirar as tripas,

feliz, jogou na panela os baiacus,

danação de fome! Aferventados,

encheu o prato, agradecido

fez os sinal da cruz!

Chamou para dentro o alimento,

enganou ali todo sofrimento...

Dormiu por um momento,

sonhou com uma vida melhor,

com a primeira namorada,

como seriam os filhos ali,

sem escolas, sem horizontes,

só lixos por todos os cantos.

Bateu escuridão! Acordou

com o serviço de alto falantes

São Lázaro tocando: eu não

tenho onde morar...

Deu caruara!

Correu para o pinico,

o corpo trêmulo, suava.

Ainda tomou um chá de velame

para rebater o veneno dos baiacus

que tinham lhe saciado a fome.

Vexame!

Colocaram o corpo moribundo

no carrinho de mão,

correram pelas pontes

em busca de socorro.

Tarde demais!

João, semi-inconsciente

pensou na maré e na infância.

Deu o último suspiro,

ficou tudo na lembrança...



Nos terreiros,

o silêncio dos atabaques!

Nos barracos pendurados

um céu cinza nos olhares...

Deus sabe!



Nhca

nov/00

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