Outra noite fria em mim e mais uma vez consigo me lembrar de você e quase não acredito que não esteja mais ao meu lado, e que eu não consegui mais manter o amor. E me lembro de como você era tão delicada, e de como fazia para não me deixar ver que caia em prantos no escuro do quarto, e de como se sacrificava em ficar ali a chorar pela morte de algo que nem sabia se existiu. Lembro-me de como era perfeita a sintonia que tínhamos e de como você se perdia entre seu medo e sua esperança. E dos abraços quando chorava por algo que eu não havia dito.
Eu não pude manter você em meu coração e me lembro de como era que eu costumava tentar.; não deixar que isso nunca terminasse, embora acabasse queimando sua pele clara com minha mão negra.; sob um céu que se desconcentrava num cinza eterno e tudo que eu desejava era não estar mais ali. E via você parada, lenta e tão brilhante que me cegava e eu já não podia mais ver e gritei onde ninguém mais podia ouvir, apenas você. E não havia mais ninguém no mundo que eu quisesse bem do que você, não havia ninguém que eu podia amar mais do que você e te deixei partir e te amo mais do que pude dizer.
Naquela noite não foi o seu coração que morreu, as lágrimas eram para o funeral do meu, e nunca acreditei que eu tivesse que te olhar tão triste e tudo começava a se esvaziar dentro de mim. Com o corpo no chão e uma musica tristemente alta continuava a tocar, e é desse jeito que me sentia por dentro, doente e impreciso, sentindo-me tão fraco por ter te dito que te amaria até a morte e vivo te desprendia de mim. Você lá sem nada dizer permanecendo a me olhar, e fazendo com que eu acreditasse que a chuva fosse algo que eu sempre senti, e tão docemente me escutava sem questionar e mesmo caindo, eu continuei a sorrir enquanto eu te partia em pedaços.