NO FUNDO DO POÇO
“E comecei a definir, na boca induvidoso gosto:
de urina e merda.” Haroldo Maranhão, As Peles
Frias, p.13.
Faz pouco tempo, o coração batia,
forte pulsava cheio de ternura,
a todo tempo, infindo, noite e dia
buscava em teu amor paz e ventura,
até que descobri, por ironia,
o que no coração fez-lhe a amargura:
Avara por dinheiro e fantasia,
viver sem fantasia era u’a tortura.
E assim, no vai-da-valsa e da vaidade
meteu a mão sem dó e sem piedade,
botou-me a corda e o laço no pescoço.
Depois de chupar o osso da carcaça
levou de resto as sobras da devassa
e o seu caráter p’ra o fundo do poço.
|