PREDADORA
“Sei de uma criatura antiga e formidável,
Que a si mesma devora os membros e as entranhas,
Com a sofreguidão da fome insaciável.”
Machado de Assis, Poesias Completas, p.293.
Quem é essa predadora criatura
que quer ter só presente, sem passado,
e no presente alterna a desventura
com desapreço a tudo que é sagrado?
E que, no seu viver, nada perdura,
por que nasceu co’o coração farpeado,
do arranjo esconso de uma arquitetura
que o projetou infeliz, desenganado,
é a fera que não poupa a própria filha,
a quem a predadora fere e humilha,
porquanto ao pai critica sem parar
e dentre as baforadas do cigarro,
a rouquidão da tosse e do pigarro,
a tudo e a todos só quer criticar.
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