Nas minhas férias de fim de ano fui pra Ilhabela, onde tinha ido apenas uma vez no longínquo ano de 1975. Naquele tempo, o lugar era apenas uma estação de balsas, borrachudos mil e nada mais. Lembro que voltamos de lá, eu e o meu amigo João Macaco, frustrados com a experiência.
Ah, mas dessa vez foi diferente! Fomos eu e o meu harém de quatro mulheres. A ilha está maravilhosa, toda asfaltada, há hotéis e programas turísticos, tudo de primeira. Alguns transatlânticos estão ancorados ao longo da costa e os turistas invadem as praias limpíssimas. Há belas cachoeiras e o comércio é de bom nível. Os borrachudos ainda estão lá, mas acabam por fazer parte da aventura e tudo vira festa.
Ficamos hospedados numa casa de praia, ampla e confortável, com vista para o Lago Ness, ou melhor, para o canal de São Sebastião. A qualquer hora o monstro misterioso poderia surgir das águas. Era bom ficar atento, apreciar, olhar de novo, gravar nos olhos para sempre. Longe, emergindo do mar, a Ilha de Alcatrazes escondida, visitada por poucos, nunca citada nos mapas nem nos guias turísticos. Misteriosa e proibida presença de granito negro, egoísmo dos homens de poder.
Éramos eu, a Joana, a Daise, a Cidinha e a Luciana. Pegamos uma cor, nadamos nas piscinas de água cristalina da praia do Curral, comemos camarões enormes e alheios (o que foi mais gostoso ainda). Caminhamos, sobretudo caminhamos, nas tardes e nas manhãs. Numa dessas longas caminhadas, passamos pela Rua Conde D’eu, na praia do Julião. Ao ver o nome da rua, uma das mulheres do harém não se conteve: “Vejam! Isso que é sorte, o Conde deu, ficou famoso e ainda virou nome de rua. Acho que farei o mesmo!...”
Epa!... Essa não, mil vezes não! Pelas barbas do profeta! Não gostei de ouvir aquilo. Podia ser o começo de uma rebelião no meu harém, um ataque iminente a este machão. As mulheres começavam a pensar bobagens e ficar impacientes. O mar tem a virtude de mexer com a sensualidade delas, as placas tectônicas hormonais se mexem lá dentro. Dez dias já tinham se passado e era melhor para minha saúde voltar voando para Taubaté. Minha competência, reconheço, não dava para tanto.