Usina de Letras
Usina de Letras
167 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62336 )

Cartas ( 21334)

Contos (13268)

Cordel (10451)

Cronicas (22543)

Discursos (3239)

Ensaios - (10409)

Erótico (13576)

Frases (50720)

Humor (20055)

Infantil (5474)

Infanto Juvenil (4794)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140849)

Redação (3313)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6222)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Erotico-->Tinha um Menino-Deus dentro da minha barriga -- 27/12/2001 - 20:12 (Maria José Limeira Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TINHA UM MENINO-DEUS DENTRO DA MINHA BARRIGA
Maria José Limeira

Quando eu era criança, que chegava tempo de Natal, minha inquietação se agravava.
Eu era muito pequena e frágil para dar conta de tantas novidades.
O primeiro lugar da casa que sabia da proximidade da Festa de Natal era a cozinha, onde a mulherada se juntava para sujar pratos, panelas, as bocas do fogão todas acesas ao mesmo tempo. Inclusive, o forno.
A cozinha esquentava, chegava a mil de temperatura.
O rosto da minha mãe se afogueava.
Eu não entendia por que, nesse tempo, as pessoas se enchiam de tanta energia para enfrentar a trabalheira, enquanto eu ficava horas esquecidas na cama, sem poder me levantar, esgotada, só de ver a azáfama.
Havia tanta esperança dentro de mim, que eu não conseguia dar conta...
Tinha aquela velha história de Papai Noel, que distribuía presentes com as crianças, viajando dentro da noite num veloz trenó puxado a renas, mas ninguém nunca acreditou muito nele...
A gente até ria, quando alguma criança boba chegava dizendo que Papai Noel existia.
Meu Papai Noel particular – criado especialmente para mim – vinha montado numa carroça de carregar areia, puxada por um burro manco, calado e pensativo que, de vez em quando, empacava e se sentava no meio da rua...
O velho carroceiro, indignado, tacava-lhe o chicote no lombo, e o burro... nem, nem...
Um burro teimoso assim jamais ajudaria Papai Noel a distribuir presentes com seu ninguém...
A história de Jesus, Maria e José, com aquele atrapalho de recenseamento que terminou levando Nossa Senhora a ter seu bebê numa estrebaria, e o Menino-Deus deitado na manjedoura, tudo aquilo era tão triste e comovente que até me dava lágrimas e revolta no olhar, sabendo que tudo fora verdade, porque Bíblia não mente.
Na Véspera de Natal, eu me enfiava na cozinha, atrapalhando os serviços e levando gritos dos adultos, porque tacava o dedo sujo na massa do bolo ainda crua, colocava o dedo na boca, e lá ia ele de novo buscar mais...
Tinha gente até que corria atrás de mim com um cabo de vassoura para me enxotar, pois cozinha não era lugar de criança.
À tardinha, quando a noite vinha chegando, tudo estava pronto, como num milagre. O bolo pão-de-ló, os suspiros, brigadeiros, e todas aquelas guloseimas que eram perigo para o funcionamento do estômago e intestinos no dia seguinte.
E Queijo-do-Reino! Que só aparecia na mesa de ano em ano!
Hum... Ai, meu Deus!...
Quando a noite esquentava, chegavam parentes de todo lado.
Gente que eu nunca havia visto apresentava-se como membro da família, e a mãe me obrigava a pedir a bênção a velhos tios, cujo único mérito era serem casados com velhas tias.
Os supostos tios encostavam bigodes brancos nas minhas bochechas, onde estalavam beijos úmidos.
Na Véspera de Natal, tudo era permitido...
Enquanto aquela gente se juntava a falar mal da vida alheia, contando velhas piadas de salão, inteiramente sem graça, eu pegava um tamborete, instalava-me à cabeceira da mesa, quando contemplava, deslumbrada, a variedade de comidas.
Aquilo era muito bonito de se ver...
Aproveitando a distração dos adultos, meus dedos ágeis iam pegando o que podiam, e escorregando as iguarias para dentro do bolso do vestido novo.
Depois, ia comê-las no quarto, escondido.
Mas, o ponto alto da festa, para mim, era quando, sem ninguém notar, eu chegava junto ao presépio, onde a imagem de um Menino-Deus, de olhos azuis, do Século XVIII, repousava entre palhas de verdade, na manjedoura, vestido numa bata comprida, costurada por minha mãe.
Furtivamente, eu levantava a roupa dele, devagar, até vê-lo nu, por baixo.
E lá estava: o sexo másculo, cor-de-rosa, repousado, bem pequititito, que enchia meus olhos maravilhados.
Aquilo também era muito bonito de se ver...
E pensar que eu só tinha direito à visão deslumbrante uma vez por ano!
Mais tarde, tudo encerrado, eu já deitada na cama, feliz como nunca, meio-acordada, meio-dormindo, a lembrança da mesa repleta de bolos de chocolate começava a dançar diante de mim.
Depois, eu via de novo o Cristo nu, com seu pequenino sexo cor-de-rosa intumescido...
Eu corria para o banheiro onde, vergada sobre o vaso sanitário, devolvia os bolos, bombons, pedaços de queijo-do-reino mastigados, brigadeiros, etc. ao lugar devido, e mais o Menino-Jesus, que havia se mudado para dentro da minha barriga...
(Do livro “Crônicas do amanhecer”).
Maria José Limeira é escritora e doce jornalista democrática de João Pessoa-PB).














Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui