DESPE-ME
Maria José Limeira
Despe-me.
Lambe-me todinha.
Estou deitada
em minha caminha.
Passa mãos
em minhas orelhas.
Às parelhas.
Desce linhas
de teus dedos
no meu pescoço,
em alvoroço.
Beija-me ombros
e escombros.
Beija.
No meu regaço,
chora.
Implora.
Dá-me tudo mais,
meu rapaz.
Mais do que pode ser.
Até depois do morrer.
Amassa-me seios
com fortes mãos.
Sente curvas,
mamilos,
vãos.
Auréolas rosadas
são casas pintadas,
onde pássaros alegres
guardam ninhadas.
São bicos
patéticos,
que adentram
em tua boca,
onde desemboca
encontro dos meus rios.
Mata sede,
fome,
ânsia,
desvarios.
Sente minha reentrância,
à altura do umbigo,
lugar de perigo.
Desce-me pelo ventre,
indecente.
Aspira meu cheiro áspero.
Encontra aceiro
de todo meu desespero.
Deixa-me gritar,
até o sol raiar,
o quanto te amo,
meu gamo.
Quanto mais grito,
mais brames,
meu mar.
Quanto mais me ames,
muito mais te amarei,
meu rei.
Todo meu ser-rainha
cabe por inteiro
em tua mão,
meu zangão.
Quando não for possível
suportar.
Quando loucura
nos tomar,
vem.
A porta está aberta.
Entra logo.
Que a hora é esta.
Já amanhece
em nossa festa.
Desembesta.
igual cavalo brabo
no prado,
meu gado.
Sendo dois,
somos um só,
em do-re-mi
e si-bemol,
meu arrebol.
E nosso intenso desejo
se consome
no amor que mata
nossa fome.
Formigas
de todos os formigueiros
nos comem,
meu homem...
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