A Confissão de Lúcio, obra-prima de Sá-Carneiro, que narra a história de um triângulo amoroso entre Lúcio, Marta e Ricardo, está carregada de significações e figuras de linguagem, aproximando a narrativa de uma prosa poética. Dentre essas significações, a que mais se evidencia é o semantema da luz.
O vocábulo luz está contido no próprio nome de Lúcio, cujo radical latino é lux, lucis. Dessa mesma raiz vem as palavras lucidez e Lúcifer, formando assim uma dialética intrínseca nesse nome: Lúcio – Luz e Lúcifer (trevas).
O texto é carregado de passagens em que a luz está presente, principalmente no trecho da orgia “A água translúcida”, “os cabelos fulvos, que constelavam aquelas labaredas em raios de luz” etc.
No sobrenome de Ricardo também existe uma alusão à luz: Loureiro evoca ouro, que brilha, um brilho dourado.
Ao descrever o ambiente, de forma metafórica, a luz produz um efeito onírico no texto, como se observa no trecho a seguir: “Essa luz – evidentemente elétrica – provinha de uma infinidade de globos, de estranhos globos de várias cores, vários desenhos, de transparências várias – mas, sobretudo, de ondas que projetores ocultos nas galerias golfavam em explendor. Ora essas torrentes luminosas, todas orientadas para o mesmo ponto quimérico do espaço, convergiam nele em turbilhão – e, desse turbilhão meteórico, é que elas realmente, em ricochete enclavinhado, se projetavam sobre paredes e colunas, se espalhavam no ambiente da sala, apoteotizando-a”.
O ruivo – cor de fogo – e a luz sexualizada. É interessante observar a pergutna que a americana faz a Lúcio e Gervásio:
“_ Logo, é que eu desejo conhecer o vosso juízo... E, sobretudo, o que pensam das luzes”.
A plurisignificação chega ao clímax, quando luz e brasas se tornam um amálgama. Logo a seguir é descrita a vestimenta da americana, “uma estreita malha de fios metálicos – dos metais mais diversos – a fundirem-se numa cintilação esbraseada, de onde todas as cores, ora se enclavinhavam ululantes, ora todas as cores, enlouqueciam na sua túnica”.
No parágrafo posterior, temos “labaredas em raios de luz”. é como se a luz – e a brasa – estivessem intrinsecamente ligadas. A luz libera os sentidos, revela o fogo e sexualiza os pensamentos. |