Caleidoscópio psico-cinematográfico
Um, dois, três, quatro, action, baby, quem se lembrar do primeiro filme que viu na vida ganha a rodada... eu também não lembro, mas o importante é saber qual foi o último. Porque às vezes nos esquecemos o que comemos ontem na janta e isso não é importante, mas lembrar o último filme é um pouco mais. Tem aqueles que meses depois você ainda lembra, e tem aqueles que você esquece logo que sai do cinema. Você vai ver um que diziam ser uma merda e sai da sala como se estivesse em outro mundo, hipnotizado e tentando manter na memória as cenas mais marcantes e coisas que lhe escaparam porque alguém passou na sua frente nessa horta, ou então porque a legenda era branca e a cena tinha muita luminosidade, e nessa hora todo mundo gritou “aeeeeee” na sala do cinema mas até que deu pra entender, de modo geral. E esse filme você discute com os seus amigos e ninguém concorda com ninguém, começam a brigar e puta merda!, era isso mesmo que o diretor queria provocar, ou não. Esses filmes provocam na gente um impulso e uma tendência de querer ficar argumentando com os outros bem pseudo-intelectualmente enquanto degusta uma Fanta Maçã, com pose de yuppie, tipo um ser humano. Ou então você foi ver um longa de ação que só tem muitos efeitos especiais agradáveis e momentâneos, uma bosta de história, mas, ainda assim, puro entretenimento, foi que nem aquela trepada que nunca vinha e que um dia você estava a ponto de explodir, e trepou, e teve um orgasmo, agiu como um animal, e depois, logo depois, já se esqueceu, você virou pro lado e dormiu, e na manhã seguinte você não lembrava mais que filme era e nem se foi bom pra você... e atire a primeira pedra aquele que nunca foi inquirido a respeito do filme e respondeu “é que eu fui com a minha garota”, e então o outro diz “ah tá, voce não viu o filme então. Pega em vídeo.” Mas aí você aluga o filme e quem chega em casa quando você vai assistir? A sua garota, e aí você não vê mesmo o filme, mas não está nem aí, porque foi bom pra você. Lembre-se de que sua garota não é tipo um ser humano, ela é tipo um animal, e você também. Pin Ups, Displays, pôsteres, pipoca, banheiro e pré-estréia. Fila longa, empurra-empurra, pisa no pé e sai correndo que nem um louco, estréia hoje e eu quero o melhor lugar. Faça algumas ligações rápidas no meio da tarde e chame todos, é sexta-feira, corram pra Blockbuster, paguem um absurdo só pra poderem pisar no carpete deles, mas aproveite o dinheiro, se esparrame pelo chão entre as fileiras e prateleiras, manuseie as fitas, cheire, deixe fluir pelos seus suados poros essa súbita fragrância de filme alugado, e então em casa é pipoca e refrigerante, arrume um canto e só não pode faltar luz agora. Trailers são como preliminares na cama, uma brincadeirinha que fica embaçando e enrolando bastante pra começar e só torna o treco todo mais louco, até que finalmente o filme comece, e sempre tem um cara que fica falando a toda hora, ele lê todos os nomes que aparecem nos créditos e os repete quando vê os atores entrarem em cena pela primeira vez. Mande ele calar a boca e dêem risada porque este pode ser o último filme que você verá enquanto vivo.
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