Constantemente escutamos frases vagas e mal-elaboradas durante o processo terapêutico com adolescentes e adultos jovens. Não pertencem os mesmos a classes desfavorecidas, nem possuem seqüelas neurológicas que o justifiquem. Ainda assim, a dificuldade no que toca ao pensamento organizado persiste e certamente deve-se à carência de vocabulário que lhe dê respaldo.
A capacidade de julgamento e reflexão torna-se muitas vezes seriamente impossibilitada em virtude do reduzido acervo léxico que esses indivíduos apresentam. O acúmulo de conhecimentos acadêmicos, associados por Paulo Freire a depósitos bancários, não minimizam a gravidade do contexto. Aprender ortografia e conjugação de verbos durante a permanência nos colégios tornam-se operações isoladas, pois não são dinâmicas as suas utilizações e portanto ficam apenas compartimentadas em alguma região do cérebro humano.
A riqueza do que sentimos e expressamos deve-se a um diálogo interno, dependente este de uma razoável quantidade referente a apreensão de palavras e de exercícios de expressão que lhe dêem mobilidade. A capacidade de compreender os próprios sentimentos e os alheios, além da subjetividade do sujeito que a direciona, fica subordinada a esse pré-requisito. A ortografia, é claro, tem suma importância, porém não se apresenta como fator determinante. Se assim fosse, não existiriam artistas populares e regionalistas, comunicadores autênticos de um processo mental adequado e eficaz.
A ausência das mães no ambiente doméstico, por inserção no mercado de trabalho ou até mesmo por indisponibilidade emocional, em grande parte das vezes em grande parte das vezes constitui-se como um facilitador da mediocridade verbal. Quando não entra em cena uma figura que a substitua em seu papel, isso ainda mais se agrava, ressaltada a sua influência no que toca à versatilidade da linguagem do filho, assim como à autenticidade expressiva de seu pensamento. O distanciamento interpessoal daí decorrente muitas vezes embaralha as questões psíquicas e emocionais de ambos, com resultantes desfavoráveis. A mãe que se considera pouco presente em sua relação com o adolescente pode evitar contrariá-lo, lesando a sua capacidade de reavaliação, contradição e julgamento imparcial. Para que ocupar-se em trabalhar a retórica, se ele sempre sai vencedor? Por sua vez, o autoritarismo inibe por motivo oposto, desvalorizado o filho perante pais e escolas que não se constituem como agente facilitador de mudanças.
A incapacidade do ser humano para compreender aquilo que sente e a impossibilidade de perceber, meio a seu desconforto, um leque de possibilidades e opções que provavelmente lhe trariam alívio, é angustiante. E a preocupação com a expressão de uma linguagem rica e reflexiva provavelmente responde boa parte dessa questão.