Usina de Letras
Usina de Letras
82 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62340 )

Cartas ( 21334)

Contos (13268)

Cordel (10451)

Cronicas (22543)

Discursos (3239)

Ensaios - (10410)

Erótico (13576)

Frases (50723)

Humor (20055)

Infantil (5475)

Infanto Juvenil (4794)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140849)

Redação (3314)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6222)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->Muito além do inferno -- 10/12/2002 - 02:01 (Marcel Agarie) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
- Parece que foi ontem. Não sei como, mas lembro nitidamente do meu primeiro sorriso. Papai, mamãe se emocionaram com o meu gesto. Logo comecei a falar as minhas primeiras palavras: mama, papa. Ainda tinha dificuldades com a dicção. Seguindo a ordem, veio o primeiro dente, as minhas primeiras tentativas de ficar de pé e o primeiro galo na cabeça depois de rolar cama abaixo. Enquanto pensava, já estava andando, correndo atrás dos pombos na praça perto de casa. Nessa época eu entrei para a escolinha, famoso parquinho, minha primeira professora, minhas primeiras palavras escritas num papel. Lá, aprendi escrever, ou melhor, desenhar o meu nome. Foi inesquecível! Minha família inteira sentiu orgulho da minha conquista. Tempos depois ganhei a minha primeira bicicleta, acho que foi no natal, mas parece que foi ontem. Lembro-me que ainda acreditava em Papai Noel. Foram muitos tombos com ela, curativos por todo corpo e a minha mãe correndo atrás de mim para colocar o capacete. Coisas de mãe. Logo arrumei uma namorada, nada de beijo, apenas as mãos dadas. Ela tinha vergonha e, pra falar a verdade, eu também. Tivemos que terminar o namoro sem sequer um beijo. Motivo? Mudou-se para outra cidade. Nunca mais a vi. O destino guardava o meu primeiro beijo para depois. Considerando, até que veio rápido, e o melhor, naturalmente. Foi um momento mágico, e curiosamente foi com uma amiga. Acabou rolando um clima e se beijamos. Foi legal, mas foi uma vez só. Chegava o tempo das baladas. Festas, festas e mais festas. Nada de responsabilidades. Era festa de todos os jeitos e de todos os gostos. Os beijos tornaram-se frequentes e agora já rolavam as transas. A minha primeira aconteceu numa dessas festas, aliás, foi numa dessas que também conheci a bebida, o cigarro e a maconha. A transa rolou fácil, estávamos com as pernas travadas de tanto beber. Me foge até o nome dela da minha memória. Creio que ela deveria ser especial para mim. Creio. Durante este período eu ganhei o meu primeiro e único carro. Havia acabado de ingressar na faculdade de direito e meu pai fez questão de me presentear. Agora era mais fácil se locomover. Poderia ir a qualquer festa que tivesse na cidade. Tudo era perto para mim. Foi numa dessas festas que experimentei pela primeira vez a cocaína. Foi incrível! Bateu forte na veia e na mente. Não dá para explicar. Eu já não conseguia curtir a balada sem dar uma cheiradinha, duas, três, ou até quatro para começar a noite. Ela me dominava e enchia de energia o meu corpo. Mas era caro adquiri-la, porém não me importava com os gastos, afinal o meu pai era um homem de negócios, cheio de dinheiro. Tudo que ele me dava, virava pó. Aparelho de som, videocassete, tênis importados. Acabei fugindo de casa, os meus pais não me aceitavam mais. Troquei o meu primeiro e único carro por uma abrigo na favela e um pouco de cocaína. Era a primeira vez que eu sentia a falta dos meus pais. Era a primeira vez que eles não estavam ao meu lado para me aconselhar o que fazer. Não foi fácil. Senti ódio de mim mesmo, demais. Muito ódio. Eu não era mais quem eu pensava que era e pela primeira vez me senti realmente sozinho. Chorei, não pela primeira vez, mas foi como se fosse. Não entendia mais os caminhos que minha vida levava. Onde estava aquele sorriso que emocionou tantas pessoas no inicio da minha jornada? Não existia mais. Nada de paz, nada de alegrias, apenas lágrimas. Milhares de lágrimas. Foi meu erro não refletir sobre o que estava fazendo. Não sei se agora é tarde para repensar...
- Não fique assim rapaz, nunca é tarde. Você errou, mas aqui terá uma nova chance. - respondeu o senhor com quem conversava.
- Mas quem é o senhor? - perguntou caindo na real.
- Desculpe, não me apresentei. Sou São Pedro e recepciono as pessoas que "batem as botas" na terra. - sorriu.
- Hã? Quer dizer que eu morri? Só posso estar sonhando! Ninguém me falou nada.
- É claro que ninguém falou nada. Desde quando se avisa que alguém vai morrer? Pra falar a verdade, era para você saber, já que se drogou a noite toda. Foi uma morte rápida. Uma parada cardíaca fulminante. Acho que o "baque" foi tão forte que afetou as minhocas da sua cabeça - brincou São Pedro.
- Ai meu Deus do céu, me ajuda! - exclamou o rapaz sem mais nada poder fazer.
- Fique calmo. O filho dele logo estará aqui para ajuda-lo. Talvez ele te arrume um emprego de arcanjo. Senão...
- Senão o quê? - interrompeu.
- Senão você terá duas opções. Uma é ir para o inferno, queimar no fogo, ser torturado, virar escravo e viver a eternidade ao lado do diabo.
- Nossa! E qual é a minha outra opção?
- Reencarnar... Porém, tem algumas cláusulas contratuais que devem ser cumpridas.
- Não importa. Quero reencarnar!
- Tudo bem. Deixa eu conectar na internet, preencher os seus novos dados e assim que eu terminar você irá reencarnar. Você terá o nome de Sebastião Apolinário Gonçalves, nascerá com alguns problemas físicos que lhe renderá diversas unhas encravadas, terá dificuldades com as mulheres e terá o pinto pequeno.
- Tudo bem, tudo bem São Pedro. Não tem problema. - Respondeu o rapaz apressado, com medo de ir para o inferno.
- Outra coisa. Quase eu ia me esquecendo. Na cláusula diz também que você será um torcedor do Palmeiras.
- Palmeiras? - indagou o rapaz.
- Isso! O Palmeiras. Aquele time que caiu para a 2ºdivisão - respondeu
- Desculpe São Pedro. Mas onde fica o inferno mesmo? Acho que o senhor pode desconectar que eu já estou indo para lá. Fuiiii.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui