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Cronicas-->Eu -- 13/09/2002 - 11:03 (Suzie Tibiriçá) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eu.

Não, eu não tenho lugar nesse mundo. Não, eu não faço parte de um grupo ou movimento. Eu ando sozinha. Mais sozinha do que qualquer um pode imaginar, do que eu possa perceber. Eu não me identifico com ninguém que eu conheça. Eu não concordo. Eu não balanço a cabeça. Eu não me divido por entre amigos e estranhos. Eu mal tenho amigos. Eu não divido ideais e sonhos com alguém sob este céu. Eu não tenho companheiros, parceiros, confidentes. Eu não vejo espelhos ao meu redor. Eu não possuo cópias ou titulares. Sim, eu ando sozinha e sofro por isto, por esta escolha feita por qualquer um - um Menino porco, talvez - mas menos eu. Eu queria tudo, menos ser diferente, consciente. Abençoados são os cegos. Divido apenas o desejo subjugado de todos que já viram algo dessa vida, o de fugir, de me livrar e me santificar do mundo, com uma abençoada perda de memória, de onisciência, de inteligência. Saber dizer "dane-se, seremos felizes". Eu não posso. Não tenho aptidão para tal. Sou uma sensível posta aqui para andar sozinha e reconhecer a cada dia mais que não, eu não tenho lugar nesse mundo. Ver em cada olhar repressor na rua que eu não tenho refúgio, ou alternativa. Ver e ouvir coisas com as quais eu reluto a acreditar e me calo, sem protesto, como uma fracassada que nada pode contra. Eu não tenho espelhos porque não os reconheço. Não há mundo que me pertença lá fora. E eu não posso simplesmente evitar, me trancando num quarto, virando as costas. Eu não posso me privar de ser gente e querer contato, reconhecimento, carinho. Sou uma menina sozinha. Infantil como todos os humanos hão de ser. Cujo único sonho é acordar e dormir com a leveza dos ignorantes que são felizes e não sabem e hão de não perder a dádiva de não ver que ninguém, uma alma sequer nesse mundo, está no lugar certo, têm chances de saber e deixar um sorriso vingar sem uma única dor escondida. Mal sabem, mal vêem. Ó, Menino porco... Não deixa. Faz de todos nós ignorantes o suficiente para sermos felizes. Continua, por favor, a subentender o sonho de estarmos longe daqui. Persista em calar isso, Menino. Não nos deixe ver. Me dê uma droga. Dê remédio pra dormir, um copo d´água. E dê fim a esta sobriedade, ao mais concreto momento de minhas aspirações e confissões. Me faça acordar amanhã por entre companheiros. Me faça sorrir sem ter que prender o choro. Me faça rir, sem desespero. Me faça acordar desejando estar, pela primeira vez na vida, onde estou. Me iluda com algum prazer, Menino. Por favor.

Ieda Marcondes
www.obum.kit.net/bum
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