Certo dia, o cara descobriu que podia voar. Não, não estou maluco. Está provado que voar é uma coisa possível, já houve antecedentes. Vejam por exemplo o Superman, o Capitão Marvel, o Peter Pan... Foi pura coincidência: quis pular de algum lugar alto, deu impulso e viu-se planando no ar. Com mais um impulso conseguiu subir e sobrevoar os telhados.
Comentou em casa que estava voando. Não acharam muito natural. A mãe preocupou-se: "cuidado, meu filho. Você pode esbarrar em algum avião." Em pouco tempo, o fenómeno se espalhou pela cidade. O Fantástico mandou uma repórter que o entrevistou, filmou-o planando no espaço azul.
Mandou a mãe fazer uma capa colorida. Onde já se viu voar sem uma roupa adequada? Resolveu adotar o nome de Capitão Voador. Deu com os burros n´água. O nome que pegou mesmo foi "Cequivoa": Cê qui voa, pode desenroscar minha pandorga do fio de luz? Cê qui voa, pode me cortar a pontinha deste pinheiro?
Mas as coisas começaram a complicar. Não estava previsto que uma pessoa podia voar livremente dentro do país. Era preciso criar uma legislação que regulamentasse. E naturalmente criar os devidos impostos. Foi então enquadrado na categoria das aeronaves de pequeno porte. Obrigado a informar seus roteiros de vóo. Não conseguia um emprego decente, era um funcionário que voava demais. Tentou estabelecer-se como aeroboy, entregando pequenas mercadorias. Os motoboys reclamaram, fizeram passeata, ameaçaram greve. Diziam que a profissão de aeroboy não estava regulamentada.
A única alegria que tinha era pairar no céu como uma gaivota, acima do mar azul. Mas isso não lhe dava camisa. Afinal, um homem precisava trabalhar, pagar imposto de renda, recolher CPMF, INSS, etc., etc. Não podia ficar só flanando por aí! Um dia ficou de saco cheio. Voar só lhe trazia problemas. Fez uma operação plástica para não ser mais reconhecido e foi embora para outro país. De navio.