CONCURSO DE PINGA
O alemãozão tinha uma vaidade: era imbatível na capacidade de ingerir chope e "schnapps". Era um copo atrás do outro. Quando foi transferido para a cidadezinha praiana, passou a ser das figuras mais conhecidas, pelo menos nos bares e associações. Ganhou o apelido de Fritz. Nas ro-dadas de cerveja, deixava longe todos os colegas e zombava deles com uma risada grossa: tenho que defender a honra da raça germànica.
Um dia - vejam só! - foi desafiado para uma competição de levantamento de copo. Quem conseguiria tomar maior quantidade de pinga? Se o desafiante fosse o Pé de Cana ou o Desgosto de Mãe, cachaceiros célebres da cidade, ainda dava de acreditar, mas não. Foi justamente o último sujeito em que poderia pensar: o Zé Menezes, pobre contínuo de repartição pública, magro, fraquinho, mas que tinha uma cara de esperto.
Marcaram dia e horário. A novidade se espalhou, era uma boa opção para quebrar a monotonia da vida na cidadezinha. Com isso, o desafio ganhou contorno de uma grande competição esportiva, uma espécie de combate entre Popó e Myke Tyson. Ligeireza enfrentando força bruta.
No dia, o salão nobre da associação inundou de gente: curiosos, apostadores, parentes e amigos dos competidores. Acomodaram-se na mesa central. O barman trouxe dois copos de pinga, para o aquecimento; cada um entornou o seu. O aroma da bebida encheu o ambiente. Veio uma garrafa cheia para cada um, que foram sendo entornadas, copo atrás de copo. Com surpresa, o alemão viu que o magrinho continuava firme. Continuaram bebendo. Mais quatro garrafas (quero dizer, duas). No final da terceira garrafa, o Fritz entregou os pontos (mais precisamente, arregalou os olhos e caiu duro no chão). Aclamação geral. Vitória do brasileirinho raquítico.
O barmam veio, passou um pano na mesa, deu uma piscadela pro Zé Menezes e recolheu sua garrafa que ainda tinha um restinho de água mineral. E falou para os espectadores: agora esse alemão deixa de ser besta!
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