Uma semana depois do final da Copa do Mundo é assim. As bandeiras que enfeitavam os carros vão sumindo, as que foram pintadas nas ruas vão se desgastando e desaparecendo. A decoração verde-amarela, que neste ano substituíram as bandeirinhas das festas de São João, são retiradas e o cameló não fatura mais com as cornetas, brindes e apitos com as cores da bandeira nacional. A capital volta a ter o seu aspecto cinzento, troca o verão improvisado das manhãs de futebol pelo inverno, que agora resolveu vir de vez.
Não acordo mais pela manhã com o som dos fogos de artifício, que ecoam nas ruas desertas. Verdadeiros feriados virtuais em plena semana de trabalho. Não saio mais do quarto e caminho até a sala para ver a minha família toda com a camisa da seleção. Nem eu mais me preocupo com a minha "amarelinha", que agora está guardada a sete chaves no guarda-roupa, ao lado de sua irmã azul tetra-campeã em 94.
Não tem mais café da manhã reforçado. Não tem mais pipoca matinal, muito menos aquela cervejinha que resolveu aparecer de vez em quando. Não ouço mais a melodia dos pássaros em fusão ao Hino Nacional. Não leio mais o caderno especial da Copa no jornaleiro antes das partidas, nem acompanho na TV o resultado dos jogos da rodada.
Não vou mais trabalhar com a voz rouca de tanto gritar. Não chego mais no trabalho com a curiosidade de saber quem acertou o resultado do jogo e ganhou o bolão. Não tiro mais sarro daqueles que não botaram fé na nossa seleção e apostou nas outras. A Copa que era unanimidade nas conversas do almoço, agora dá espaço para a política, presidentes, risco Brasil e Big Brother Brasil. Sobre a Argentina, falamos apenas da crise, nada de futebol.
Os xingos que eram destinados ao Felipão, agora voltaram-se contra os meus chefes. As telas das TV´s transformaram-se em monitores de computador e a bola virou apenas artigo de loja de material esportivo. Ronaldo, Gaúcho, Rivaldo, Roberto Carlos, Cafú, gols e lances geniais vão se transformando em páginas da história do futebol e, assim, vamos nos recuperando da ressaca do Penta.
Salve o feliz rapaz que um dia criou, o que é hoje, o maior espetáculo esportivo da Terra.