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Cronicas-->Vidrinho de vê -- 25/05/2002 - 14:04 (Marcel Agarie) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Autor: Marcel Agarie
Data: 25/05/02

Crónica: "Vidrinho de vê"

Graças ao trànsito paulistano, acabei descobrindo uma nova forma de distração. Nos momentos críticos, quando o carro fica mais parado do que andando, observo os retrovisores dos carros que ficam do meu lado. Podem me chamar de maluco, mas é isso mesmo que estou fazendo nos congestionamentos de São Paulo. Desde que comecei esta experiência, a cada dia que passa aumenta a minha vontade de ficar olhando, sem parar, aqueles espelhos.

Normalmente os carros têm 3 retrovisores. Um na lateral esquerda, um na lateral direita e outro no meio. Todos, basicamente, desempenham a mesma função de refletir os veículos que vêem de trás, prevenindo o condutor de provocar algum acidente. Porém, o retrovisor do meio, aquele que os motoristas dos filmes - e da vida real - ajeitam para refletir um par de coxas ou um decote ousado de uma passageira, serve também para outras finalidades.

Os mais religiosos o utilizam para levarem a proteção divina junto consigo. É incrível o número de carros pela cidade, que desfilam com fitinhas coloridas de Nossa Senhora de Aparecida, Nossa Senhora do Bonfim e outros santos, amarrados no espelho retrovisor. Um dos que eu vi, o volume era tão grande, que cobria todo o espelho, parecendo até com um "pom-pom" de paquita pendurado no meio do carro. Se dependesse da fé deste motorista, o seu carro - uma Brasília bege, mais ou menos do ano de 76 - atravessaria voando a Av. Paulista numa boa, graças a intervenção divina de seu santo protetor, que viaja com ele no retrovisor.

Ainda seguindo a linha dos religiosos, não podemos esquecer também, aqueles que carregam um terço pendurado no espelhinho. São terços de diversos modelos: madeira, bijuterias e brilhantes, que além de protegerem os motoristas de um possível acidente, servem como ajuda nos horários de pico na Av. Rebouças, na Radial Leste e nas Marginais, pois nestes momentos, nem Cristo com um apito de um "marronzinho" do CET na boca, faz o trànsito andar.

Deixando os religiosos de lado, falaremos agora dos motoristas mais supersticiosos. A maioria que reparei, levava um pé de coelho ou um raminho de arruda para trazer sorte. Não vi ninguém com uma ferradura pendurada, talvez por não ter o mesmo efeito no retrovisor, como tem atrás da porta. Será que tanta superstição serve para o carro não quebrar, ou até mesmo evitar que as vias fiquem congestionadas? Não sei, mas considerando as probabilidades, acredito que a sorte deve ajudar para ambas.

Entre os congestionamentos, não podemos esquecer os motoristas baloeiros e os simpatizantes por culturas exóticas. Os baloeiros são os mais fáceis de identificar, porque sempre levam uma miniatura de balão amarrado no retrovisor, que fica balançando de um lado para o outro, como se estivessem perseguindo um balão que nunca irá cair. Já os simpatizantes de culturas exóticas, preferem colocar aqueles sinos chineses (japoneses, chineses são tudo iguais) que fazem um barulhinho chato pra caramba. Posso até concordar que - em casa, balançados pela força da brisa - o som emitido por estes sinos são relaxantes, mas não dentro de um carro que anda pelas ruas deterioradas de São Paulo. De relaxante torna-se estonteante, e o som que era para ser um suave: blinnnn, blinnn, blinn... Nas ruas, com o carro balançando, se transforma em um dissonante: bloNNs, tlascks, blooonnn, placss, pluftssss...

Continuando o assunto, podemos também identificar os motoristas mais preguiçosos. Como exemplo, basta olharmos no retrovisor se existe alguma daquelas peças perfumadas de lava-rápido penduradas. Estes, com certeza, têm preguiça de lavar o próprio carro no final de semana e preferem deixa-los no sábado pela manhã, em uma destas casas especializadas de lavagem. Eu sou um dos que se encaixam neste grupo, mas com um detalhe. Normalmente, eu sempre esqueço o "trequinho" perfumado pendurado no retrovisor durante meses, a ponto de às vezes, ele até mudar de cor (culpa da sujeira).

Para finalizar, falarei do retrovisor do meu carro. Ele tem ótima mobilidade, visão para direita e esquerda, e carrega como característica a simplicidade por não ter nada de exótico, nem religioso para mostrar. Mas, para mim, ele se tornou em um ótimo conselheiro, um amigo que não me deixa sozinho no meio do barulho ensurdecedor das buzinas, e sempre que possível, ainda me transmite alguma mensagem, como se fosse um profeta. Uma delas, só entendi depois de bater na traseira do carro que estava parado na minha frente.

"Não se preocupe com o que passou, para não se descuidar com o que vem pela frente".

PS: "Vidrinho de vê" era como um amigo meu, de infància, chamava o espelho retrovisor dos carros. Escrevendo esta crónica, lembrei-me dele, e por este motivo, deixo o título deste texto em sua homenagem. Um abraço Zequinha!
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