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Cronicas-->Versões de mim (Luiz Fernando Veríssimo) -- 07/02/2002 - 09:53 (Roberto Cursino de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
VERSÕES DE MIM
(Luiz Fernando Veríssimo)

Vivemos cercados pelas nossas alternativas, pelo que podíamos ter
sido.
Ah, se apenas tivéssemos acertado aquele número (Unzinho e eu ganhava
a sena acumulada), topado aquele emprego, completado aquele curso,
dado aquele beijo, chegado antes, chegado depois, dito sim, dito não,
ido para Londrina, casado com a Doralice, feito aquele teste...
Agora mesmo neste bar imaginário em que estou bebendo para esquecer o
que não fiz. Aliás, o nome do bar é Imaginário. Sentou um cara do meu
lado direito e se apresentou:
-Eu sou você, se tivesse feito aquele teste no Botafogo.
E ele tem mesmo a minha idade e a minha cara. E o mesmo desconsolo.
Por que? Sua vida não foi melhor do que a minha?
- Durante um certo tempo, foi. Cheguei a titular. Cheguei à seleção.
Fiz um grande contrato. Levava uma grande vida. Até que um dia...
- Eu sei, eu sei... disse alguém sentado ao lado dele. Olhamos para o
intrometido... Tinha a nossa idade e a nossa cara e não parecia mais
feliz do que nós. Ele continuou:
- Você hesitou entre sair e não sair do gol. Não saiu, levou o único
gol do jogo, caiu em desgraça, largou o futebol e foi ser um medíocre
propagandista.
- Como é que você sabe?
- Eu sou você, se tivesse saído do gol. Não só peguei a bola como
mandei para o ataque com tanta perfeição que fizemos o gol da
vitória. Fui considerado o herói do jogo.
No jogo seguinte, hesitei entre me atirar nos pés de um atacante e
não me atirar. Como era um herói, me atirei... Levei um chute na
cabeça. Não pude ser mais nada. Nem propagandista. Ganho uma miséria
do INSS e só faço isto: bebo e me queixo da vida. Se não tivesse ido
nos pés do atacante...
- Ele chutaria para fora.
Quem falou foi o outro sósia nosso, ao lado dele, que em seguida se
apresentou.
- Eu sou você se não tivesse ido naquela bola. Não faria diferença.
Não seria gol. Minha carreira continuou. Fiquei cada vez mais famoso,
e agora com fama de sortudo também. Fui vendido para o futebol
europeu, por uma fábula. O primeiro goleiro brasileiro a ir jogar na
Europa. Embarquei com festa no Rio...
- E o que aconteceu? Perguntamos os três em uníssono.
- Lembra aquele avião da VARIG que caiu na chegada em Paris?
- Você...
- Morri com 28 anos.
Bem que tínhamos notado sua palidez.
- Pensando bem, foi melhor não fazer aquele teste no Botafogo...
- E ter levado o chute na cabeça...
- Foi melhor, continuei, ter ido fazer o concurso para o serviço
público naquele dia. Ah, se eu tivesse passado...
- Você deve estar brincando disse alguém sentado à minha esquerda.
Tinha a minha cara, mas parecia mais velho e desanimado.
- Quem é você?
- Eu sou você, se tivesse entrado para o serviço público.
- Vi que todas as banquetas do bar à esquerda dele estavam ocupadas
por versões de mim no serviço público, uma mais desiludida do que a
outra.
As consequências de anos de decisões erradas, alianças fracassadas,
pequenas traições, promoções negadas e frustração.
Olhei em volta. Eu lotava o bar. Todas as mesas estavam ocupadas por
minhas alternativas e nenhuma parecia estar contente. Comentei com o
barman que, no fim, quem estava com o melhor aspecto, ali, era eu
mesmo.
O barman fez que sim com a cabeça, tristemente.
Só então notei que ele também tinha a minha cara, só com mais rugas.
- Quem é você? Perguntei.
- Eu sou você, se tivesse casado com a Doralice.
- E?
Ele não respondeu. Só fez um sinal, com o dedão virado para baixo...

Creio que a vida não é feita das decisões que você não toma, ou as
atitudes que você não teve, mas sim, aquilo que foi feito! Se bom ou
não, penso, é melhor viver do futuro que do passado!
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