No coletivo lotado cheiros e hálitos se misturavam e o calor sufocava à queles que queriam chegar ao seu destino.
No lado externo, do lado oposto dos espremidos, numa praça, num banco qualquer de concreto, uma cena materializava-se aos olhos das pessoas que aglomeradas no enlatado chacoalhavam.
Um homem esquecia-se de si mesmo,deitado no banco da praça. Esquecido, sujo, como um desfalecido, um amontoado de carnes, ossos, músculos, peles, estrutura, forma, um corpo.
Encolhia-se fugindo do rancor, escondendo-se da vida, enfiava seu rosto, não visto, por dentro da camisa.
Uma poça formava-se embaixo do concreto onde o homem repousava, escorria lentamente entre as pernas. E na poça podia-se ler o abandono, a crueldade e as injustiças...
Alguns olhos estancavam sobre aquele retrato escuro, aumentavam de tamanho expressando horror e assombramento.
Olhinhos sombreados de cansaço.
Apenas olhos que fotografavam sem memória a cena, um homem sem rosto paralisado no tempo real e no tempo dos olhos.
Erika Viana |